The Queen Is Dead



Há exatamente dois posts atrás, falei sobre uma dessas bandas com carreiras curtas, poucos discos e muito talento. Do tipo que lançam discos e pouco tempo depois já estão entrando no seleto grupo de bandas lendárias, e que, dificilmente sairão de lá. Foi assim com os Stone Roses, mas principalmente, foi assim com os Smiths. Uns garotos de Manchester que resolveram formar uma banda para cantar as poesias que faziam em casa, em um universo musical que era cada vez mais dominado pelo New Wave e seus sintetizadores.

Uma banda que, por ironia do destino - ou ironia dos integrantes mesmo -, tinha como nome o sobrenome mais comum de todo o Reino Unido. Felizmente, a "normalidade" da banda acabava por aí. Entre belas letras sentimentais e melodias muito bem trabalhadas, a dupla Morrissey (vocais) e Johnny Marr (guitarra) - a banda ainda contava com Andy Rourke no baixo e Mike Joyce na bateria - proclamava, de música em música, que aquele disco seria o amadurecimento musical do grupo.

Particularmente, tenho uma relação muito pessoal com os Smiths. Coisa de família mesmo. Meu pai estava cantarolando esses dias a música "Ask" enquanto o videoclipe passava na televisão. É uma das bandas preferidas dele porque enquanto Morrissey cantava todos os tipos de angústias e medos de uma geração lá na Inglaterra, ele fazia parte dessa geração aqui no Brasil. Se algum dia um cientista desocupado descobrir que gosto musical é uma característica hereditária, eu serei o primeiro a acreditar.

The Queen Is Dead é considerado por muitos o melhor disco dos Smiths e, consequentemente, um dos melhores dos anos 80. Após o fim da banda em 1987, a influência deste trabalho em outros grupos é facilmente detectada. Morrissey se consolidou com sua carreira solo e Johnny Marr fez parte de boas bandas como Modest Mouse e The Cribs. Rourke e Joyce, assim como quando faziam parte dos Smiths, não obtiveram o mesmo sucesso da dupla principal, apesar de ambos terem trabalhados em alguns projetos (um deles com o próprio Morrissey).
A penúltima canção do disco, There Is A Light That Never Goes Out, é considerada uma das melhores músicas da carreira dos ingleses. Quem diria, acabou sendo uma espécie de profecia da era pós-Smiths. A luz daquela que é uma das mais influentes bandas inglesas, nunca se apagou.

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Track by track



  1. The Queen Is Dead - A canção que dá nome ao álbum, antes de tudo, é uma metáfora. Uma metáfora bem direta, mas ainda sim, uma metáfora. Quando Morrissey canta "Her very Lowness with her head in a sling / I'm truly sorry - but it sounds like a wonderful thing", ou que "A Rainha está morta", a bola da vez é a aristocracia britânica, profundamente criticada pelos Smiths nesta bela música.
  2. Frankly, Mr. Shankly - Uma canção animada, com um ritmo que lembra de leve o dub jamaicano. Ao ouvir pela primeira vez, lembrei de Ob-La-Di, Ob-La-Da, dos Beatles. Sua letra, dizem, é uma crítica aos produtores que pediam uma postura mais "comercial" dos Smiths.
  3. I Know It's Over - Uma das letras mais sentimentais das centenas de músicas que já ouvi. Morrissey leva a canção em uma performance praticamente teatral, trazendo à tona os momentos mais tristes da canção. A simples melodia, neste caso, tem apenas uma canção: assistir ao show particular do vocalista dos Smiths.
  4. Never Had No One Ever - Uma canção com a cara de Morrissey. Conta sobre alguém que, devido a sua timidez, nunca teve ninguém. É uma música bem trabalhada por Marr e sua guitarra, e traz um clima ainda mais pesado do que a música anterior.
  5. Cemetry Gates - Música animada, onde, mais uma vez, Marr mostra porque é um dos melhores guitarristas ingleses dos anos 80. É uma resposta bem-humorada de Morrissey à alguns críticos, que o acusavam de plágios em alguma canções dos Smiths.
  6. Bigmouth Strikes Again - É, de longe, a canção mais bem trabalhada de todo o disco. Talvez uma das melhores da carreira dos Smiths. É, também, uma letra com referências à Joana D'arc, famosa revolucionária francesa.
  7. The Boy With The Thorn In His Side - Uma das músicas mais emblemáticas e conhecidas da banda. Marr faz uma bela parceria com Morrissey, que mais uma vez faz da letra o seu maior trunfo. Essencial para quem quer começar a gostar dos Smiths.
  8. Vicar In A Tutu - É a canção que menos chama a minha atenção em todo o disco. Talvez seja algo pessoal, mas o clima alegre da música não me empolga, apesar da boa letra (uma critica à igreja e seus costumes).
  9. There Is A Light That Never Goes Out - Na minha opinião, a melhor música de toda a carreira da banda. Os Smiths transformaram esta canção em algo sublime e que entrou para a história. Simplesmente genial!
  10. Some Girls Are Bigger Than Others - Música com uma bela melodia pop. É uma das mais conhecidas da banda e também a canção com a letra mais simples de todas. Fecha com chave de ouro aquele que é, na minha opinião, o melhor disco dos Smiths.

Nota
9/10

Melhor música
There Is A Light That Never Goes Out

Prestar atenção em
Bigmouth Strikes Again

Curiosidades
- A capa, desenvolvida por Morrissey, é de 1964. Na realidade, é uma foto do ator francês Alan Delon no filme L'Insoumis.
- "Some Girls Are Bigger Than Others" foi escolhida por Morrissey, no ano de 2003, como sua canção favorita da era The Smiths.
- As músicas "Frankly Mr Shankly", "I Know It's Over" e "There Is A Light That Never Goes Out" foram escritas em apenas um dia, em uma "maratona" de composições realizada por Morrissey e Johnny Marr na casa do guitarrista, em Manchester.