Dizer-se fã de alguém ou alguma coisa é, pelo menos para mim, algo muito relativo. O significado de fã pode variar, e muito, de pessoa para pessoa. Para uns, fã é aquele que sabe a data de nascimento do cão de estimação de determinado artista. Para outros, nada disso importa.
Sendo fã ou não, a questão é que o Oasis é, de longe, minha banda preferida. Posso dizer com absoluta certeza que eles foram os principais "culpados" pelo início dessa minha paixão pela música. Foi deles o primeiro disco que eu realmente ouvi, foi deles o primeiro clipe que eu realmente gostei. Até hoje continuo sendo um admirador incondicional do que os Gallagher fizeram.
A questão é que, assim como eu, muitos desses fãs acham que Liam Gallagher é um compositor mediano - sendo bonzinho - se comparado ao irmão mais velho, Noel. Quem pesquisar um pouco por aí verá que, desde o início, a responsabilidade pela criação das músicas do grupo foi sempre de Noel. E, cá entre nós, hinos como
Don't Look Back In Anger,
Live Forever, Whatever - e até o maior hit da banda,
Wonderwall - mostram que essa expectativa foi muito bem atendida. Praticamente tudo que o Oasis produziu, desde sua criação, foi fruto do que Noel Gallagher produziu.
Aí veio o ano 2000, o fim do século, o fim de uma "era" da banda britânica. Com ele também vieram composições do outro irmão e assim o mundo pôde conhecer um novo lado, o lado Liam. Com
Little James, o caçula estreou sua primeira música no disco
Standing On The Shoulder Of Giants. Claro, não foi unanimidade entre os fãs e continua não sendo. Inegavelmente, Liam Gallagher viveu sempre sobre a sombra de Noel enquanto os dois faziam parte de uma mesma banda.
Apesar de tudo, as músicas do Oasis passaram a ser mais "dividas". Além de Liam, o guitarrista Gem Archer e o baixista Andy Bell também começaram a compor músicas para os discos pós
-Standing. É notável - pelo menos pra mim - a melhora de Liam.
I'm Outta Time ,uma de suas últimas músicas com o Oasis é também uma das minhas favoritas do disco
Dig Out Your Soul.
Alguns meses depois, a banda acabou de vez. Em uma apresentação em um festival francês, em 2009, o Oasis acabou em meio as já tradicionais polêmicas que sempre cercaram a banda: guitarras quebradas, supostas ofensas pessoais entre os irmãos - que mal se falavam - nos bastidores e o fim de uma das maiores bandas inglesas de todos os tempos.
Ainda sim, o fim do Oasis foi considerado uma boa notícia para o resto da banda. Após as brigas com Noel, Liam e os outros integrantes formaram a Beady Eye. Enquanto o irmão mais velho quis paz e tranquilidade com sua esposa e seus filhos, o mais novo estava a todo vapor, compondo com Andy e Gem o que seria o primeiro disco de todos ali na era pós-Noel
.
Com as esperanças de um retorno praticamente acabadas, coube aos fãs aguardar o lançamento de
Different Gear, Still Speeding. Ainda não foi lançado, mas o álbum já está disponível internet afora há algumas semanas. Ouvindo o disco pela primeira vez, cometi talvez o mais comuns e mais inevitáveis dos erros: uma comparação com a antiga banda de Liam. Esperar que a Beady Eye supere o que foi o Oasis é o pensamento mais utópico possível. É como esperar que um álbum solo de Roger Daltrey/Pete Townshend seja melhor que qualquer disco do The Who, ou tentar imaginar como seriam os Beatles sem McCartney ou Lennon (guardadas às devidas proporções).
Agora, se você ouvir este álbum sem nenhum tipo de comparação, como eu fiz depois de algum tempo, posso te garantir: a Beady Eye não te decepcionará. Não é o mais espetacular dos álbuns mas é, sim, bom. É notável a melhora do trio Liam-Gem-Andy nas composições e o piano que parecia pesar nas costas de todos aparentemente foi embora junto com Noel.
Considerando tudo que os integrantes passaram há pouco tempo,
Different Gear, Still Speeding é, quem sabe, o surpreendente grito de independência de Liam Gallagher, ainda que seja um pouco cedo para dizer se essa é a banda definitiva dos próximos álbuns. Talvez o título do disco seja a primeira das muitas respostas que
Our Kid ainda nos dará.
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