Angles



Quando os Strokes lançaram seu terceiro disco, First Impressions Of Earth, em 2006, muitos acharam aquele álbum o mais diferente lançado pela banda até então. Era o disco que, de certo modo, abandonou um pouco o rótulo de "banda de garagem" e, definitivamente, elevou os norte-americanos ao patamar de banda grande. As músicas mais trabalhadas foram o sinal verde para uma nova fase na vida dos Strokes, em todos os sentidos. Sinal verde para os projetos-solo engavetados pelos integrantes, sinal verde para um hiatus na carreira da banda.
O vocalista Julian Casablancas lançou em 2009, um álbum solo intitulado Phrazes for The Young. O baixista Nikolai Fraiture tem o projeto paralelo Nickel Eye. O guitarrista Albert Hammond Jr. também tem seu próprio disco, chamado Yours To Keep. E por fim, o baterista "brasileiro" Fabrizio Moretti tocou no elogiadíssimo Little Joy.

Desde então, muito se falou sobre um possível fim da banda. De projetos em projetos, os Strokes deixavam os fãs cada vez mais confusos. Declarações como a do guitarrista Nick Valensi, para o website musical Pitchfork, dão uma noção sobre qual era o clima na banda pós-First Impressions:

"Eu não sou um grande fã de trabalhos solo. Eu sou da opinião de que, se você está numa banda, é isso o que você faz. Se há material de sobra e tempo disponível, então tudo bem. Mas se você está tocando o material que você ainda nem apresentou à sua banda principal e está guardando para si mesmo, não acho isso legal. Nesse ponto, não sei nem mesmo se teremos um quarto álbum."


Quando parecia que os Strokes seguiriam o já tradicional caminho sucesso-brigas-fim que muitas bandas seguiram, eis que surge, no website da banda, um aviso de que, o grupo estava de vola à ativa. Após uma espera de cinco anos, os nova-iorquinos lançavam um álbum com material inédito. O disco, chamado Angles, teve seu lançamento anunciado para o dia 22 de Março e fez com que a expectativa dos fãs ao redor do mundo aumentasse cada vez mais.

Toda a epopéia chamada Angles começou com o download gratuito, fornecido pela banda, do single Under Cover of Darkness. Após alguns minutos, o endereço http://new.thestrokes.com/ já estava fora do ar devido  às centenas de milhares de acessos. Os Strokes, definitivamente, estavam de volta.
Neste disco, é notável a diferença musical da banda em relação aos outros álbuns. Os elementos eletrônicos e influências dos anos 70/80 dão o tom em um trabalho que é a síntese de, quem sabe, uma nova fase na carreira do grupo. Pela primeira vez, desde a criação da banda, o processo criativo não ficou centralizado apenas em Casablancas, o que ajudou a diversificar o repertório dos Strokes. Apesar de algumas "recaídas" aos velhos tempos, Angles é a prova perfeita de que Julian e Cia. estão evoluindo, em todos os sentidos.
Pra quem achava que First Impressions of The Earth era diferente, o espanto ao ouvir o álbum será imediato, por razões óbvias. Entretanto, por mais estranho que seja no início, o ouvido se acostuma, de uma forma bem positiva, ao "novo Strokes".
A era de ouro da banda, no começo dos anos 2000, já se foi. Gostando ou não, o fato é que os integrantes, com todos os projetos já aqui citados, cresceram, musicalmente falando. Esperar um novo Is This It ou Room On Fire é aquele tipo de utopia que já ouvimos centenas e centenas de vezes.

E só para lembrar, esse ano ainda tem coisa nova dos Arctic Monkeys, preparem seus ouvidos para o "lamento" de fãs...

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Track by track



  1. Machu Picchu - A música de abertura já dá uma noção de como o disco dos Strokes é novo, em todos os sentidos. A bateria de Fabrizio Moretti parece ter sido tirada de algum grupo new wave, mais oitentista impossível. Lá pro meio da música as guitarras entram pra completar a canção.
  2. Under Cover of Darkness - A primeira música que chegou aos ouvidos dos fãs através da própria banda. No lançamento via download, muitos recuperaram as esperanças de que o "velho" Strokes estava de volta, devido às belas guitarras em sincronia. Estava, mas não do mesmo jeito.
  3. Two Kinds of Hapiness - Não seria exagero dizer que esta música saiu direto do túnel do tempo. Pelo menos em seu início, Two Kinds of Hapiness traz sintetizadores inspiradíssimos pelos anos 80. Apesar de não ser a pior das músicas, pode soar genérica algumas vezes.
  4. You're So Right - É a pior do disco, de longe. Mesmo com o solo de guitarra no meio da música, não anima nem o mais entusiasmado dos fãs.
  5. Taken For a Fool - Também foi uma das primeiras músicas a chegar ao conhecimento do público. Não é tão boa como Machu Picchu ou Under Cover of Darkness mas é animada. Lembra um pouco os velhos tempos.
  6. Games - Sem dúvida essa é a música mais estranha de todo o disco. Nenhum resquício das guitarras de Hammond Jr. e Valensi. Parece ter sido feita especialmente para aquela balada de algum clube famoso.
  7. Call Me Back - As guitarras e o riff inicial anunciam que Call Me Back é uma música calma do começo ao fim. A bateria de Fabrizio Moretti some e deixa uma lacuna vazia na música. Julian e sua voz fazem com que a música não seja ainda mais entendiante.
  8. Gratisfaction - Uma das músicas mais legais de todo o disco. É onde a banda toca, de verdade, como uma banda. Guitarras em sincronia com a voz de Julian Casablancas.
  9. Metabolism - Se não fosse por You're So Right essa seria a pior do disco. Simples.
  10. Life Is Simple In The Moonlight - Uma ótima música se comparada às anteriores. Moretti faz uma virada espetacular no meio da música e as guitarras parecem ser uma só. Alguns podem encarar como elogio ou uma crítica, mas o fato é que Life is Simple In The Moonlight tem boa melodia e, ironicamente, encerra um disco que vai gerar discussões por um bom tempo.

Nota
6,5/10

Melhor música
Under Cover of Darkness

Prestar atenção em
Life Is Simple In The Moonlight

Curiosidades
- A capa do disco é de autoria do artista plástico belga Guy Pouppez, que morreu em 1993.